A casa que o tempo não levou: conheça um casarão antigo em Arabutã (SC)
Local foi vendido e deverá se tornar um atrativo turístico
Hoje, vou me afastar um pouco do aspecto turístico e abordar mais sobre história. O tema de hoje é uma antiga construção que, devido à sua raridade arquitetônica nos dias atuais, merece ter (ao menos parte) de sua história contada.
Arabutã (SC)
2021 – A lembrança que tenho é de que, há alguns anos, durante um passeio pelo interior de Arabutã, vi essa residência pela primeira vez. Desde então, fiquei encantada com a imponência da construção.
O tempo passou, mas minha curiosidade sobre aquele local permaneceu viva ao longo dos anos.
Recentemente, por meio de uma imagem publicada no Facebook, tive a oportunidade de me encantar novamente. A foto, tirada de outro ângulo, inicialmente não me fez perceber que se tratava do mesmo lugar por onde havia passado tempos atrás.
Foi durante uma pesquisa sobre outra casa antiga, também localizada em Arabutã — infelizmente já demolida — que cheguei ao casarão tema da reportagem de hoje.
Venha comigo conhecer mais uma preciosidade localizada na região Oeste de Santa Catarina!
História
Para conhecer mais sobre o velho casarão, conversei com o senhor Nadir Scheifler, que morou por muitos anos na residência, onde construiu memórias com sua família.
“Somos quatro irmãos e todos nascemos nesta casa: Nelio Scheifler, 83 anos (em memória); Nilo Scheifler, 81 anos (em memória); Nilva Scheifler Potratz, 73 anos; e eu, Nadir Scheifler, 67 anos. Nossos pais, Emílio e Olga Arend Scheifler (em memória), nasceram em Nova Petrópolis. Casados, mudaram-se para Castro Filho, que, na época, pertencia à Concórdia e hoje é o município de Arabutã […]. Sempre trabalharam na agricultura. Nossa primeira moradia era um casebre feito de pranchas lascadas com facão. Mais tarde, foi construída essa casa, hoje chamada de casarão”, relata Nadir.
Na foto a seguir, registrada em 1950, é possível observarmos Emílio, Olga e dois filhos: Nelio e Nilo ainda crianças. (Foto: Arquivo/ Família Scheifler)
Não se sabe ao certo o ano da construção, mas a família estima que a casa tenha cerca de 82 anos.
“A casa foi construída pelos carpinteiros Alfredo Schnack, Frederico Schnack, Reinaldo Scheibe e pelo meu pai, Emílio Scheifler. Tivemos também o apoio de um tearista, Otto Lerman (em memória), que ajudava minha mãe, Dona Olga, com a pastagem, os cuidados com a roça e a alimentação do gado e dos suínos”, acrescenta.
Os últimos moradores da casa, o senhor Arlei e a esposa Erci Weimer Mausolf, se mudaram há cerca de dois anos do velho casarão. Hoje, residem a poucos metros da antiga residência.
Geladeira da família
Ao visitar a residência, o primeiro cômodo que conheci foi o porão. Não pude deixar de perceber que ali há um tipo de quarto, um espaço feito de alvenaria no centro do porão. Nadir me contou que o espaço foi pensado para o armazenamento de alimentos da família.
“Meus pais chamavam de ‘a nossa geladeira’, quando não tinha luz. Dentro daquele fechado tem uma prateleira, duas, não sei ao certo, e, no fundo, o pai colocava cerca de mil litros de água. Lá, o pai e a mãe guardavam carne da sexta-feira de manhã até domingo de manhã para fritar, cozinhar, fazer churrasco. Essa carne ainda estava boa, porque realmente gelava”, relata.
Detalhes marcados pelo tempo
Outro detalhe que chamou a minha atenção foi o fato de haver desenhos em algumas partes do teto e também nas portas dos quartos. Hoje, com as cores mais singelas em decorrência do passar dos anos, as pinturas ainda resistem e mostram o capricho em cada detalhe da antiga casa.
Os desenhos, de acordo com Nadir, foram feitos pelo pai, Emílio Scheifler. “Foi tudo o pai que fez; aquelas pinturas e aqueles quadros das portas também. Ele tinha o dom de fazer esse tipo de coisa”, fala com orgulho.
Sobrado
Um lugar que se destaca nesse tipo de construção, com certeza, é o sobrado! De acordo com Nadir, desde o início, a casa tinha apenas dois quartos no sobrado, e o restante do cômodo seguia um conceito aberto. Depois, com o passar dos anos, Emílio fechou outra parede, onde ficavam mais duas camas, para quando a família recebesse visitas.
Abaixo uma imagem de um dos quartos do sobrado, onde é possível ver uma porta desenhada por Emílio.
O espaço aberto entre os quartos era onde o pai colhia arroz e o levava em bolsas para o sobrado, onde eram derramadas de 15 a 20 sacas de arroz colhidas pela família. Esparramavam uma camada fina no soalho e, diariamente, iam mexer o arroz para a secagem.
Na imagem abaixo é possível ver esse ambiente onde eram armazenados os grãos.
Ele conta que o arroz não poderia secar ao sol; deveria ser seco em local com sombra, pois os grãos poderiam se quebrar na hora de descascar.
“Tudo era segredo que os antigos tinham. O pai sempre secava aquele arroz na sombra e lavava no moinho pra descascar. Depois, chegava em casa com todos os grãozinhos inteirinhos”, explica.
Futuro turístico
O velho casarão foi adquirido recentemente por Olguin Metz (atual prefeito de Arabutã) e, no futuro, será transformado em um atrativo turístico. Ainda não se sabe ao certo se será um museu ou outro tipo de espaço. A construção continua na propriedade da família Scheifler e, possivelmente, será transportada para outro local com o auxílio de um caminhão.
A meu ver, o espaço poderia abrigar diferentes atividades, como um museu e também, um local com a oferta de café colonial típico alemão, tendo em vista a cultura presente em Arabutã e a falta desse tipo de estabelecimento na região Oeste de Santa Catarina.
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Veja a seguir, mais algumas imagens dessa construção encantadora (clique para ampliar).
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