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Obra de um só homem, Parque Witeck é o maior bosque particular no RS



Aquela foto típica em meio às folhas de outono. (Alô Moleca, me patrocina)

Senta que lá vem história…

Tudo começou no ano de 2020, quando, ao fazer uma rápida busca por lugares interessantes, eu encontrei o Parque Witeck, uma propriedade repleta de plantas e árvores de diferentes partes do mundo, um projeto grandioso que teve inicio graças ao sonho de um único homem. Já havia adiado a minha viagem até ali, desta vez decidi que não iria adiar mais. E claro que eu fui com todos os cuidados necessários para evitar um possível contágio por Covid-19. 

Os preparativos começaram na noite do dia 31 de abril com a organização do equipamento fotográfico, teste de lentes, conferir se as baterias estão carregadas. Alarme preparado, acordar 4h da manhã para viajar em torno de umas 4 horas até Forquetinha, uma cidadezinha encantadora localizada a cerca de 125 km de Novo Cabrais, meu destino final.

Hora de viajar

Cerca de 8 graus, achei que seria mais difícil levantar da cama. Quando viajo eu tenho uma sensação nostálgica, me recordo da época em que era uma criança de 8 anos, que, quando ia para excursões da escola deixava tudo preparado na noite anterior para acordar, me arrumar e ir rumo a uma nova aventura. 

É mais tranquilo viajar de madrugada, inclusive eu prefiro. Acompanhar os pássaros levantarem o primeiro voo do dia, e ter a oportunidade de acompanhar o clarear das sombras com um belo nascer do sol ao longo da viagem é algo que me encanta!

O trajeto de cerca de 315 Km, foi marcado por áreas rurais, casinhas de madeira antigas contrastando com construções novas, locais e pessoas diferentes em uma região até então desconhecida.


Casa localizada no município de Forquetinha (RS). Foto: Jessica Edel

Chegando ao destino final

Na rodovia Transbrasiliana, a cerca de 200 km da capital Porto Alegre, uma placa indicava à esquerda o nome do lugar que eu queria tanto conhecer: Parque Witeck. Ao adentrar aquele ambiente verde, fui orientada por um senhor que auxilia no estacionamento e, enquanto me aproximava não pude deixar de observar que haviam carros de diferentes regiões estacionados à sombra das árvores centenárias.


Construção localizada no início da propriedade. Foto: Jessica Edel

Ansiosa para desbravar os cerca de 3 km de trilhas, fomos até uma simpática senhora que após o pagamento de 15 reais de ingresso, fez um breve resumo sobre a história do parque. Ao julgar pelo atendimento no Whatsapp, eu fiquei com um pouco de receio em como seria o atendimento no local, mas felizmente, fui surpreendida positivamente. 

Confesso ter ficado um pouco assustada com a quantidade de pessoas (crianças, adolescentes, adultos e idosos) que ali estavam. Inicialmente, me deparei com adolescentes correndo e adultos gritando, o que me fez refletir por algum momento se estava de fato no lugar correto. Quando vou a um lugar em meio a natureza, geralmente é para ter um momento de paz, poder desfrutar da tranquilidade que o local oferece. Um ambiente turístico, com a presença de diferentes pessoas, nem sempre nos proporciona tal paz.

Dando sequência a trilha que é toda sinalizada com calçada (inclusive acessível a cadeirantes)  pude observar as diferentes espécies de plantas com variadas cores e aromas, bancos rústicos de madeira, amplos espaços para piquenique onde famílias, grupos de amigos ou casais apaixonados desfrutam de bons momentos em meio à natureza.






Em alguns metros, ainda no início da trilha, uma casinha singela chama a minha atenção, uma construção não muito grande, com porta e janelas verdes e toda coberta por uma planta trepadeira que transforma aquela simples construção em um cenário de contos de fadas.



Dando sequência à caminhada em meio a trilha, me encontro em meio à uma imensidão verde que contrasta com o canto de pássaros. Impossível não se encantar por um lugar tão puro e agradável. Continuei minha caminhada para chegar logo ao meu objetivo, um vale encantado com um lago contrastado com os tons laranja das folhas que renovam-se para que logo possamos nos deslumbrar com uma nova estação. 

Uma coisa eu posso afirmar com toda a certeza: que lugar encantador! Uma riqueza natural construída por uma pessoa e passada adiante para as novas gerações, o Parque Witeck merece ser conhecido, valorizado. É uma experiência a ser vivida em uma tarde sozinho (a) ou com aqueles que amamos.

Eu amo desbravar esses locais pouco conhecidos, adoro esse sentimento de descoberta, de estar em um local diferente. O Parque Witeck com suas milhares de árvores, cores e animais é um lindo refúgio em todas as épocas do ano, mas no outono, ganha cores vivas e contrastantes. Veja abaixo algumas fotos registradas no local. Vale a pena conhecer! 

História Do Criador

O responsável por dar vida ao local foi o médico militar Acido Witeck, natural de  Peritiba (SC), cidade vizinha de Concórdia, local onde nasci. De acordo com a informações disponibilizadas pela família,  Acido nasceu em 1929 e aos 18 anos de idade foi servir, de forma voluntária, no Batalhão de Engenharia de Porto União (SC). Naquela época, havia apenas  uma vaga para enfermeiro e foi daí que surgiu o interesse pela área da saúde. Descendente de alemães, se comunicava apenas pelo idioma germanico, e foi em Porto União que aprendeu a falar e escrever em português. 

Aos 19 anos prestou concurso nacional para a vaga de sargento da área de saúde, detalhe: havia apenas uma vaga para atuar na área. Se mudou para o Rio de Janeiro, cidade para a qual foi transferido, onde cursou Medicina. Na década de 60, já médico, Witeck foi transferido para Cachoeira do Sul, onde atuou como clínico geral. Entre 1989 e 1993, foi prefeito de Cachoeira do Sul onde na sequência foi eleito vereador e também foi convidado para assumir como Secretário da Agricultura da cidade, cargo que exerceu até o ano de 1997.

O médico morreu em agosto de 2004, por conta de problemas da leptospirose e de herpes zoster. Como último pedido realizado, a família optou pela cremação. As cinzas foram colocadas no Parque Witeck, no Recanto da Paz, no Lago Mágico e no Grande Espelho do Céu e permanecem lá até hoje. Ao observar o Recanto da Paz, é possível ver que há três pedras. Não é algo feito “por acaso”, as três pedras foram colocadas no Recanto da Paz, devido ao hábito que o médico  tinha de plantar três exemplares de cada espécie. As três pedras, com o tempo, formaram um coração.


Recanto da Paz em homenagem à Acido Witeck. Foto: Jessica Edel

História do Parque

Após sair pela estrada em busca de um soldado que estava em um município vizinho, Acido Witeck avistou uma propriedade rural à venda. A propriedade era composta por hectares que de acordo com a família, era um local “sem pastagem decente e nem terra com fertilidade”.

Acido era um admirador da natureza e pensou que aqueles hectares aniquilados pela erosão e o chão pisoteado pelo gado poderiam se tornar um  lugar melhor para, quem sabe, produzir alguma cultura e criar animais. Adquiriu a terra em 1962, assim dando início, mesmo que de forma inconsciente, ao Parque Witeck.

 

O cenário típico de contos de fadas (especialmente no outono) é ‘palco’ perfeito para ensaios fotográficos, que com as belezas do local, tornam as recordações fotográficas únicas e ainda mais especiais. 

 

O parque é lar de diferentes espécies de animais. Ao caminhar pelas trilhas pude perceber que ali era muito mais que milhares de espécies de plantas. Como não se encantar pelo canto das mais de cem espécies de pássaros que por ali constroem seus ninhos e cantam lindas melodias que nos transmitem paz? Os gansos e patos nadando de forma majestosa pelo espelho do céu? O lago artificial mais bonito que vi na minha vida. Ao caminhar em alguns pontos da trilha, é possível identificar a presença de capivaras. Ali também vi vários insetos, e lindas borboletas. 

 

De acordo com relatos da família, Witeck tinha o hábito de sempre que adquiria uma nova planta, plantava três mudas de cada espécie, era uma forma de ampliar as chances de nascerem naquela terra pobre de minerais. Hoje, o local que a décadas havia sido encontrado sem muita perspectiva de evolução, é lar de mais de 2,5 mil árvores, com espécies nativas e exóticas trazidas de pelo menos 25 países de cinco continentes. Muitas das plantas ali presentes estão identificadas pelo nome e país de origem.

Onde Witeck estiver deve sentir muito orgulho de tudo o que construiu, do legado deixado e que hoje permanece encantando pessoas das diferentes regiões que vão até ali apenas para conhecer sua floresta particular, que por sinal, é muito bem cuidada por sua família.





Curiosidade

Uma última curiosidade antes de encerrar: o brasão do município de Novo Cabrais homenageia o espaço criado por Acido Witeck.

Foto: Divulgação Prefeitura de Novo Cabrais

Mais informações sobre o Parque Witeck

  • O parque abre para visitação aos sábados, domingos e feriados das 9h às 17h;
  • O valor da entrada é de R$15;
  • É necessário fazer a reserva com antecedência através do Whatsapp (51) 99880-7701. 
  • Para mais informações acresse o site do Parque Witeck (clique aqui).

Galeria de Imagens

*** É expressamente proibida a reprodução de qualquer fotografia e texto aqui publicados sem a atribuição dos devidos créditos à autora. Dúvidas e sugestões podem ser enviadas ao e-mail jessicagedel@gmail.com

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Jessica Edel

Com início no meio jornalístico antes mesmo de iniciar a graduação, já passei por veículos de rádio, televisão, web, inclusive com breve colaboração ao Uol.
Após ter a oportunidade de trabalhar em diferentes meios, decidi me dedicar ao que mais me cativa: o jornalismo de Turismo.
Aqui no Notas de Viagem exponho minhas experiências em diferentes destinos pelo Sul do país.